domingo, 16 de novembro de 2008

Mea culpa de uma metaleira de meia tigela

ESTE TEXTO POSTEI NO MULTIPLY - QUEM JÁ LEU NÃO PERCA TEMPO...
Já que a culpa de não ir a shows de rock está latente, achei oportuno relançá-lo...

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Se o meu eu de quinze anos atrás soubesse o que me tornaria hoje o que pensaria? Hoje tive claro que o sentimento de frustração seria o mais latente naquela Cris que fui.
A Dama de Ferro veio aqui várias vezes e eu tive sempre justificativas bem palpáveis para não vê-la: minoridade, pai bravo, mãe temerosa, dependência econômica e a certeza que a grana para o show nunca seria dada para tais fins. Agora ela chega aos meus ouvidos pela minha varanda por ter o privilégio de morar próximo do Parque Antártica e de ter um show rolando por lá com trocentos megawatts de potência e um público irado cantando todas as músicas. Me postei na varanda para não perder a oportunidade de um dia ouvir o Iron Maiden. Curiosamente eu não estava sozinha, outros expectadores-de-ouvido estavam nas janelas e varandas. Acho que todos estavam vivenciando flashbacks parecidos ao que eu estava tendo na minha cabeça...
Tudo começou com uma galerinha metaleira interessante no meu bairro onde morei na infância e adolescência. Por proximidade e nem tanto por amizade, pude tomar conhecimento do que era o tal de "Iron Maiden". E aquela molecada cabeluda e de preto era muito atraente aos meus olhos de adolescente. Não deu outra, comecei a me considerar parte do movimento dos headbangers, apesar de ter medo de fazer o movimento cervical característico e terminar com um baita de um torcicolo. Tinha uma certa inibição de assumir e passei por esta fase sem o uniforme básico: o cabelão e o pretinho básico. Ninguém notou a mudança da "Cris Metaleira". Minha fama de CDF era forte e eu não sabia direito como conformar as duas correntes de visual e atitude.
A adoração tomou corpo quando ganhei do meu tio roqueiro um álbum duplo e um quadro cheio de recortes da banda. Foi o presente mais intenso que recebi na minha vida. Ficava horas ouvindo e reouvindo uma fitinha com o the best of do Iron Maiden no toca fitas do carro da minha mãe (era esta a minha estratégia para não ferir os ouvidos sensíveis da família).
Com o tempo fui ficando mais ousada, colando pôsters no quarto, para horror do meu pai que nem passava na porta para não ver aqueles homens todos na parede, de calças agarradas com os membros volumosos muito perceptíveis, olhando para sua filhinha. E eu dormia suspirando e enlevada, com os olhos grudados no Steve Harris.
Quando vieram para o Rock in Rio lá estava eu de plantão na sala sozinha assistindo e esperando que meu pai não cortasse o meu barato sob algum tipo de ameaça paternal e fizesse valer as regras da casa de dormir cedo.
De pé na minha varanda fiquei a pensar quais desculpas eu daria para aquela garota. Como ela entenderia que apesar de agora estar na condição de assalariada, independente e adulta, sem pai castrador e ainda morando perto do local do show, não estou lá entre os 37.000 felizardos?

Um comentário:

Janaína disse...

Somos duas metaleiras de meia tigela. Dia 30 ouvi na Kiss FM que 15 de março terá outro show do Iron. Os ingressos começaram a ser vendidos no dia 2 de dezembro e eu logo pensei em te chamar pra ir.
Mas daí as tarefas domésticas me dominam e eu me esqueci.
Bem, agora já não deve ter mais ingresso e eu tô chorando sobre a vodcka derramada...
Beijos,
Jana