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segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Denúncia de última hora "Crime livresco na Bovero"





Muita indignação me fez agora sacudir a minha preguiça e postar aqui sobre uma aberração que presenciei algumas horas atrás. Estava voltando para casa, passando pela Avenida Alfonso Bovero quando avistei uma montanha gigantesca de livros na calçada. Livros jogados a esmo debaixo de chuva e atrapalhando os transeuntes, arriscando virar sopa e entupir boeiro. O energúmeno autor da façanha é um livreiro. Pasmem! Um livreiro, proprietário do sebo na esquina da Alfonso Bovero com a Bruxelas . Um crime duplamente abominável: em terra de livros caros e população pouco leitora, uma displicência dessa é uma ofensa, e a montanha em via pública um atentado ao bem público. Como um ser desses pode se denominar livreiro!



Numa tentativa insana parei e comecei a empilhar os livros e, obviamente, amante dos livros que sou, peguei alguns para mim. Um morador da região que passava com seu cachorro observou a cena e externou a sua aversão pela porquice do traste-livreiro. Nos contou que não foi o primeiro crime que ele cometeu, em outras ocasiões já tinha jogado livros na calçada para consternação da vizinhança.




Novos expectadores passaram por alí e se solidarizaram. Um rapaz até voltou para casa e trouxe um carro para levar alguns embora. Outros passantes pararam e pegaram despojos que julgaram interessantes, outros ajudaram na formação de pilhas para tirar os livros da calçada. Por fim, com as revistas jogadas montamos uma espécie de barricada na porta do sebo impedindo a sua entrada. Era grande o suficiente para aborrecer o desgraçado por algumas horas.




Já cansada pelo esforço da construção da barricada somada à minha pernada rotineira rumo à minha casa, fiquei pensando; o que mais fazer? Seria válido ligar para a polícia? Existe algum orgão de denúncia? Este livreiro tem algum alvará de funcionamento?

domingo, 29 de março de 2009

Alfarrabistas da língua em crise


Com a cacholinha no ócio, nova entidade acabou aparecendo nela...
Para aqueles que adoram livros velhos, grafias ultrapassadas, se emocionam ao ver uma capitular floreada, incrementam o vocabulário passivo com novas-velhas palavrinhas e palavrões pescados num livro antigo, não se intimidam quando o livro em mãos está em "português de Portugal" (ó pá!). Velharias venham que estou sempre facinha para vocês!

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E por falar em velharia...Ai que saudades do meu português...
Meu desconforto com a nova reforma ortográfica é latente. Não só porque tenho que reaprender o que levei anos para absorver ao longo da minha humilde trajetória de falante e pensante nesta língua querida. Tem que conformar todo o meu ser pretensamente barroco a uma suposta simplificação. Suposta porque se fosse para simplificar todos os acentos deveriam cair, despencar, arriar, sucumbir, escafeder, morrer definitivamente.

Não sou contra mudanças. Não! A língua segue uma dinâmica do uso e pouco a pouco algumas coisas vão se perdendo pelo caminho. Tem uma dinâmica própria e a escrita deve seguir atrelada ao uso. O movimento contrário a esta lógica para mim é usurpação dos lingüistas enchedores de lingüiça. Sei lá, uma necessidade tecnocrata de mostrar trabalho.

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Faço minhas as palavras do poeta Glauco Mattoso no texto que ele escreveu para o site Cronópios:

O orphanato inglez e o asylo portuguez

De Glauco Mattoso para o Cronópios

 

 

Outro dia um amigo me criticava pelo quixotismo de defender sozinho a "velha" orthographia. Respondi que as reacções collectivas começam assim, pela iniciativa isolada de algum inconformado, ao qual os demais vão adherindo. E comparei minha attitude ao que acontece na língua ingleza. Elles não reformaram a orthographia e não se preoccupam com o desapparecimento do "PH", mas a universidade de Oxford quer evitar que certas palavras caiam em desuso e sumam do vocabulario fallado ou escripto. Para isso foi creado um sitio chamado "Save the Words" (savethewords.org), que estimula o emprego de palavras em risco de extincção. Elles rastreiam a rede para detectar vocabulos que, de tão raros, nem são reconhecidos pelos correctores orthographicos dos programmas de edição digital. Depois de seleccionadas pelos lexicographos, as palavras "esquecidas" são colladas no sitio, donde berram em audio para que os internautas as adoptem, como si fossem creanças desamparadas. Quem decide adoptar uma dellas tem que se registrar no sitio e se comprometter a utilizal-a, tanto nas conversas quanto na correspondencia. O sitio até emitte um certificado de adopção para cada voluntario.

 

 

 

Ora, por que não crearmos, em portuguez, um sitio que estimule o emprego da orthographia etymologica? Afinal, si os latinistas cultivam uma lingua "morta", ou os esperantistas uma lingua "artificial", por que não reconhecermos que o cultivo duma escripta "archaica" pode ter sua importancia cultural, que vae muito alem da simples rebeldia individual dum poeta cego?

 

 

 

Sciente estou de que poucos têm accesso às fontes de referencia prequarentistas, como um "Diccionario contemporaneo da língua portugueza" (1881) de Caldas Aulete, ou um "Manual orthographico brasileiro" (1921) de Julio Nogueira, e egualmente poucos têm erudição grecolatina capaz de "reconstituir" a graphia antiga a partir da actual forma phonetizada. Por isso estou preparando um minimanual, que intitulei "Decalogo mattoseano", ou "Promptuario practico do systema etymologico", para synthetizar regras e exemplos, excepções e casos ommissos. Logo disponibilizarei esse breviario. Por emquanto, vamos commentar o que está vigorando.

 

 

 

Dos trez cavallos de batalha na nova reforma (trema, accentos e hyphen), o mais tranquillo é o trema. Concordando ou não, todos sabem onde elle existia e passam a saber que elle deixa de existir. Ponto para o systema etymologico, pois antes de 1943 o trema nunca existira. Typica notação allemã, apparecia somente em adjectivos como "müllereano", mas era extranho ao portuguez. Nem por isso alguem iria pronunciar "linguiça" como "preguiça", nem "tranquillo" como "aquillo". Bastava o costume para orientar o ouvido e a escripta. Nenhum drama, portanto, nesta queda do trema, um signal que jamais deveria ter entrado na lingua.

 

 

 

Ja quanto ao hyphen a porca torce o rabo, e teremos panno para manga. Antes de analysarmos os innumeros casos particulares, comtudo, importa resalvar que a nova reforma até que tentou uniformizar, mas acabou escorregando nos mesmos problemas provocados pela bagunça do systema phonetico arbitrariamente implantado em 1943, que ja fora remendado em 1971. Na raiz de tudo está a incoherencia de qualquer escripta que se pretenda phonetica, contrapondo-se à intransigencia de qualquer escripta que se pretenda etymologica. Vamos destrinchar.

 

 

 

Na briga entre etymologistas e phoneticistas, as consoantes insonoras e geminadas são o maior pomo da discordia. Palavras como o substantivo "penna" e o verbo "annullar" dão bom exemplo. Para os etymologistas (como eu), os dois "NN" de "penna" são fundamentaes para entendermos que a "pena" com um "N" só é dó, emquanto a "penna" com dois "NN" é a antiga canneta. Da mesma forma, "annullar" (tornar nullo) nada tem a ver com o dedo anular (com um "N" e um "L" só), mas para os phoneticistas toda lettra dupla tinha que se reduzir a uma, de modo que as palavras ficassem enxutas e leves. Mesmo sem concordar, eu até entenderia, si o criterio fosse geral. Succedeu, porem, que os próprios reformadores não se entendiam: queriam eliminar o "H" de "humidade" mas não de "humanidade", embora graphassem "deshumanidade" sem "H". Queriam tirar o "H" de "herva" mas não de "herbivoro". Queriam trocar o "X" de "dextra" por "S", mas não tiraram o "X" de "extra". Ou reformassem duma vez, ou deixassem como estava! Ahi veiu o peor: emquanto tiravam lettras dum lado, doutro accrescentavam lettras onde não havia, como um "S" a mais em "antiseptico" ou em "asymmetrico". Que adeanta fazer um buraco para tapar outro? Crearam-se monstrengos como "antissético" e "minissaia", quando o mais logico seria, aqui sim, usar o hyphen. E a estupidez não parava por ahi: alguns prefixos exigiam hyphen, como "auto", mas outros exigiam juxtaposição, como "anti", e tinhamos absurdos como "auto-retrato" coexistindo com "antinazista". Agora chega a nova reforma e altera "microondas" para "micro-ondas" e "auto-retrato" para "autorretrato"! De novo duplicando consoantes que não são duplas!

 

 

 

Ora, a unica finalidade do hyphen seria justamente evitar essa falsa duplicação de "RR" e "SS", alem de proteger o "H" que não quizeram supprimir de "anti-horario". Si fossem realmente phoneticistas, deviam mudar logo para "antiorário", "orário", "umano", "úmido", "erva", mantendo o hyphen em "mini-saia", "auto-retrato", "anti-sético" e "a-simétrico". Só assim o raio do tracinho teria alguma utilidade.

 

 

 

Quanto a mim, que faço em taes casos? O systema etymologico não approxima a escripta da falla, de forma que, dependendo da clareza e do bom senso, cada composto é unido ou separado: "antiseptico", "asymmetrico", "autoretracto", "antinazista", "antisocial", "minisaia", "microondas", "bom senso", "cavallo de batalha", "sacco de gatos"... Era até melhor ter eu escripto "anarcholitterario" (tudo juncto) ou "livre pensador" e "franco atirador" (separado) do que com hyphen, como fiz no primeiro capitulo. O hyphen é, na verdade, um estorvo cujo emprego devia ser restricto ao minimo exigido pela clareza.

 

 

 

Nós, etymologistas, gostamos de lettras a mais? Sim, mas não inventamos lettras, não collocamos lettra a mais onde ella nunca existiu. Jamais escrevo "antisocial" ou "contrasenso" com dois "SS". Si eu fosse phoneticista, usaria o hyphen exactamente nesses casos, para favorecer a pronuncia, e prompto. Antes escrever "asymmetrico" que "assimétrico". Antes "autoretracto" (ou mesmo "auto-retracto") que "autorretrato".

 

 

 

Emquanto a maioria simplesmente segue a nova regra sem questional-a, eu convido meus selectos leitores a reflectir que não são só os poetas que têm liberdade para transgredir, mas todos aquelles que pensam no idioma como um filho adoptivo, e não como um pae auctoritario.

 


segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Bookcrosser Crisim na ativa


Este final de semana tomei coragem e resolvi encarar a minha nova condição de "libertadora" de livros. Minha primeira ação foi na estação Liberdade. Minto, o Zé já havia libertado três livros meus, dois na Central das Artes e o outro dentro do metrô (no trem mesmo!). Só que no caso dele não tinha esta atitude "ideológica" minha. Fez porque pedi. Bom, como ia dizendo eu mesma estava devendo fazer alguma coisa. Neste momento solene não estava sozinha, Zezim e Kauê estavam comigo para testemunhar e dar um incentivo.

Depois de umas pernadas na feirinha da Liberdade, já de volta e na estação Consolação, deixei outro.

Um turbilhão de coisas, o coração batendo forte, a indecisão, alguns olhares alheios em mim. É uma experiência emocionante!

Se encontrarem algum livro solitário por aí já sabem...Está lá intencionalmente! Esperando um flerte... Porque tudo se parece mesmo com um approach amoroso, o livro está lá, a pessoa está também, os dois estão sem fazer nada...Quando dão por si ambos estão fisgados.


Para quem se interessar em embarcar nesta aventura, existem alguns lugares fixos de bookcrossing, com livros à espera de alguém para sequestrá-los. Se você for mais corajoso, torne-se membro e deixe alguns filhotinhos livrescos cairem no mundo:

Central das Artes - R. Apinagés 1081 - Sumaré

Salommão Av. Angélica, 2435 - Higienópolis

Casa das Rosas - Av. Paulista


domingo, 1 de fevereiro de 2009

Livro livre


Tenho perdida na minha memória uma conversa com um amigo sobre livros. Ele precisava ler o livro "A Era dos Extremos" do Hobsbawn para o mestrado e ia pedir emprestado. Até aí tudo bem. Descobri que ele tomava emprestado todos os livros que queria ler, comprava muito pouco. Não que não tivesse condições de tê-los ou que fosse sovina, era um posicionamento próprio. Fiquei surpresa com as idéias dele justamente porque me vi seguindo uma premissa totalmente contrária. Sou muito apegada aos meus livros, ponho nome na página de rosto, sei a posição deles na estante, quando empresto é com muito receio e quase chorando e agitando o lencinho na despedida. Nunca mais esqueci a frase que ele me disse "ter o livro com você não garante que você tenha o conteúdo para si". Segundo ele, a não ser que eu vá revisitar o livro várias vezes, tê-lo comigo guardado é totalmente inútil. O livro existe para ser lido e ponto final.


Trabalhei em biblioteca, fui convivendo com livros "públicos" por assim dizer e constatando como é importante este tipo de pensamento. Depois por conta própria inventei uma bibliotequinha no serviço com um sistema de empréstimos bem simples. Usei meus próprios livros neste acervo. Penso que desta forma ajudo os demais a lerem mais, mas no final das contas estou ajudando a mim mesma a praticar o autodesprendimento e por em prática a idéia do livro livre.


Quando já estava bem sossegada e achando que já tinha contribuído o suficiente para um mundo mais leitor e uma Cris menos possessiva e egoísta, eis que surge uma novidade embasbacante. Estive na Casa das Rosas no aniversário de Sampa como já havia contado no texto anterior. Por lá estavam distribuindo livros de um movimento chamado "bookcrossing". Na capa dos livros estava escrito "Não estou perdido... Sou um livro livre!". E no interior um texto que me emocionou de tão fundo que pegou em mim: "Sou um livro muito especial. Viajo ao redor do mundo em busca de novos leitores. Espero ter encontrado mais um em você. Por favor, vá até www.bookcrossing.com, entre com o número BCID abaixo e deixe uma breve nota. Descobrirá onde estive, quem me registrou e meus leitores anteriores saberão que estou seguro em suas mãos. Depois ajude-me a realizar um sonho: leia-me e liberte-me!"


A proposta é muito simples. O livro é colocado em lugares públicos para um curioso e leitor em potencial descobrí-lo. Cada livro tem um registro no site e espera-se que os leitores que o acharam dêem satisfação dele no momento em que tomaram posse ou quando vão deixá-lo para o próximo felizardo. Quem quiser ir mais fundo nesta filosofia pode inscrever-se como membro e botar livros para circular. O site dá todo o suporte para você realizar a façanha, desde uma espécie de estante virtual dos seus livros libertados até modelos de etiquetas e cartazes de divulgação.


Nem preciso dizer que fiquei viajando na idéia: o mundo virar uma grande biblioteca! E melhor, o livro é que te acha e não você! Mais ainda: a experiência de compartilhar. Não é emocionante? Ah, eu precisava fazer parte disso! Já me tornei membro e comecei a escolher alguns filhos de papel para entregar para o mundo. É um processo doloroso para a mãezona aqui, mas totalmente transcendente. Quando atingir o nirvana eu aviso, tá?


O evento bookcrossing na Casa das Rosas foi registrado em documentário:



O bookcrossing no mundo:


Em Portugal



Na França:



Na Grécia:



Na Alemanha: