sábado, 24 de março de 2012

Crisim dos 7 aos 39

Aos 13 Crisim disse:

"Ontem, ou seja, sábado, começou a aparecer bolhas de catapora. Eram poucas mas já com elas eu sentiria vergonha de ser vista por alguém. Hoje apareceu mais ainda. Elas não coçam mas quando a estouração acabar não mais se poderá dizer: - A minha não coça. Mesmo assim sem coceira perdi alguma coisa, que é a aula de inglês. Perdi uma matéria né, mas acho que posso repor" (1/11/1985)
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"A Regina (esqueci de contar) também pegou catapora. A notícia correu e até a Laci veio ver como a gente estava se sentindo com essa mudança tão brusca na nossa aparência. Começou a coceira hoje e a Débora coitada, não parava um segundo de salpicar talco nas bolhas. A Regina tá bem pior que eu e eu e ela passamos a noite inteira sem dormir por causa da catapora. Eu fiz de tudo, tomei chá de monte o que não deu em nada (2/11/1985)
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"Com esta catapora a gente tem que tomar bastante banho. Esses dias os banhos tomados devem ter trazido pro meu pai uma conta absurda. Não sei como não acabou a água já que a água que vinha as vezes faltava. A vó Alzira, o vô Alfredo e a tia Rita vieram nos visitar e trouxeram doces e salgados do aniversário da tia Regina. Tiraram sarro da nossa cara sarapintada de bolhas" (3/11/1985)
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"A Erika nem ligou, nem veio me visitar por consideração. Creio que se ela estivesse dodói eu não lhe deixaria de fazer um visitinha de cortesia. Bem, mas posso me consolar pensando no livro que o fessorzão Zé mandou para mim por intermédio da Cris e da Andréa. É um livro que muito já ouvi dizerem o nome mas não faço a mínima idéia de que se trata. Seu nome é "Dom Casmurro"de Machado de Assis. Aposto que ele sorteou o meu nome ou me deu por razão a várias coisas que eu fiz" (4/11/1985)
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"É quinta e a semana custa acabar. O diário também custa a acabar. O que é mais torturoso é o tempo que custa a passar e não encontro outra coisa a fazer do que consumir livros de Sherlock Holmes. E pensar que estou perdendo parte da minha adolescência nesta cama, enferma. Cada minuto é precioso. Eu poderia estar fazendo inúmeras coisas..." (5/11/1985)
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"Gozado que quando não podemos fazer nada é que aparece aquela energia concentrada. Creio que como os objetos tenho uma energia potencial dentro de mim que como estando doente e parada ela se acumula, e como nada posso fazer tudo continuará assim. Aposto que quando esta catapora se for não saberei gastar esta energia positiva. Gostaria de entender o porquê mas isso não cabe a mim, e sim as outras pessoas" (6/11/1985)
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"Não fui no inglês e creio que a Salete deve estar botando (?) com estes meus dois lapsos. Mas também eu não estou com condições fisiológicas e uma vaidosa que se preze como eu não vai sair pra qualquer lugar cheia de manchas e berebas. Não posso tomar sol, chuva, vento e o que adiantaria pensar em ir e ficar me culpando por não ter ido. Por causa desta maldita catapora perdi o amigo secreto" (7/11/1985)
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"Hoje é domingo e graças a minha doença eu pude ficar na maior preguiça. Coitada, a mãe deve estar sentindo faltada minha insignificante ajuda. A vó Lurdes e o vô José vieram aqui visitar a gente. Faz tempo que a gente não vai lá na casa deles, mas até que é bom pois lá tem muita poeira e isso me dá alergia. Eles vieram, trouxeram chocolate (coisa que comi com prazer mas não podia)" (8/11/1985)