sábado, 28 de novembro de 2009

Crisim dos 7 aos 37


Toda menininha tem um diário. Algumas vão de agenda onde registram as suas agruras e lotam de fotos e pequenas relíquias. As rebeldes dizem que não têm, mas guardam lá um caderno que tem para elas um sentido, ou um objeto talvez que simbolize algo muito intrínseco.


Fui muito afeita a coisas singelas: tive diário, colecionei papel de carta, tive paixões platônicas, curti fossa, e muitas pieguices mais. Não vejo problema algum e não coro nem um pouco em contar sobre essas coisinhas. E aproveitando o trocadilho, não faço coro com um povo metido a resolvido que tira um sarro desses acessos de ternura. A gente tem que se lembrar que foi inocente um dia para ter salvação como ser humano.


Vou mostrar um pouco aquela Crisim cuti-cuti, CDF e tímida que fui. Compartilho com os curiosos e amigos chegados alguns trechos do diário dela. Vejam bem, isto é um privilégio, pois ela jurou furar os olhos de quem bisbilhotasse (sorte das irmãs que conseguiram ler escondido, hehehe). A cúmplice mais velha, a Crisim dos 37 mal-cumpridos, conseguiu convencê-la que agora não há problema algum. Mesmo porque todo mundo que escreve um diário quer que ele seja lido um dia...


As anotações em branco são minhas, atuais:


28/11/1985 - Crisim aos 13 diz:

"Comprei dois cadernos (caderno para os amigos deixarem recadinhos e lembranças) e de nada adiantou, pois não teve aula hoje. Apenas a Erika escreveu no caderno (ô tristeza, que menina solitária. Ainda bem que tem a melhor amiga para salvá-la). Bem, então fica para depois, ou seja, pro outro ano. Dudu afirmou que iria entrar no ITO (Dudu, paixãozinha que eu tinha na sala de aula e ITO era o colégio que ia estudar no ano seguinte) então não temo nada acerca deste assunto. Mas se ele não passar no teste? Bem, acho que isso não acontecerá. Satisfaço-me interiormente sabendo que a Priscila e o pessoal do ARCHI (Architiclino Santos, vulgo Verdão, onde estudava) vai para o ITO, então não ficarei tão só assim"


10/o9/1986 - Crisim aos 14 diz (não tinha mês de novembro...):

"Ocha, a quanto tempo que não escrevo, ein (sic)? Hoje teve jogo na nossa escola contra um outro time lá do Independência. Por causa disso a classe toda não foi na escola. Aproveitando o momento eu e a C. fomos na casa do C. assistir vídeo-cassete. Assistimos dois vídeos Desejo de Matar 1 e 2. Depois fomos numa sorveteria e tomamos sorvete. "Vortemos" de novo para a casa do C. e improvisamos um bailinho legal. Eu dancei com o R. (ele dança bem, tem um molejo!) e com o C. O R. como eu disse dança bem pra caramba. Já o C. é duro e sem ritmo. Se você aperta mais um pouquinho ele, você sente ele tremer (ops!). Ouvi até a respiração dele. Teve uma hora que ele começou a manquejar (Jesus, cadê a mãe desta menina?Algum adulto por ai pelamordedeus) Ele então desculpou, dizendo que tinha torcido o pé aquela manhã (ahã, sei...). O R. e a C. estão namorando. Deram um monte de malhos um no outro (e a Crisim deve ter ficado a ver navios...). O que mais me deixou contente foi o fato do R. dizer que eu danço bem (nem tudo estava perdido...). É difícil ouvir um elogio vindo dele, ainda mais um elogio sincero (demorei para aprender o que era sinceridade...). Eu muito humilde expliquei que eu fiz jazz (modéstia não era a melhor das minhas qualidades, bem se vê). Ai ele começou a zoar dizendo que faz balé. Eu e a C. estamos pensando em reprisar este baile, só que convidando mais gente (boa idéia Cris!). Seria legal a beça. O R. disse que heavy metal é música de orangotanto (hahaha, isto sim é sinceridade!) Ah é, seu R., vou levar vocês para minha casa e aí vou mostrar o que é bom! (que vai fazer, colocar um heavy metal para ele?)

2 comentários:

Bruna disse...

fofo e muito corajoso!! eu faço diário há muitos anos, tenho gavetas cheinhas dos meus cadernos, mas não fazia na adolescência, o que é uma pena. comecei a fazer diário qdo me mudei pra SP, acho que foi a solidão. peguei gosto, nunca mais parei. Tenho mais de dez anos de pensamentos escritos, e coragem nenhuma de publicar! (rs) mas qdo releio, me dá uma nostalgia que aperta o peito!

crisim disse...

Ah Brunim, mas não vai constar tudo não. Briga de família, nomes de pessoas, podres da minha autoria ou coisas que intimamente não quero revelar vão ficar de fora.
O bacana é isto mesmo que você cita, fica sendo uma conversa íntima.
O que me salva é que eu era muito ingênua na maioria das vezes, então os assuntos são sempre light, o que torna tudo mais fácil. Imagina se fosse uma Cristina F drogada e prostituída?