sábado, 13 de junho de 2009

Porraloucas em série - Serge Gainsbourg



Queria começar uma série de textos sobre os loucos adoráveis por quem vou me apaixonando ao longo de minhas re-descobertas de curiosa militante. Uma espécie de tributo com algumas modestas linhas neste blog. Idéia nada original mas com intenção e entusiasmo sinceros que podem fazer valer a pena. Me perdoem se eu me auto-sabotar e acabar abortando a idéia antes que ela crie raízes.





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Semana passada estive na exposição "Gainsbourg. Artista, Cantor, Poeta, Etc" no Sesc Paulista. Dele lembrava algumas músicas, a primeira de todas no hit parade das minhas memórias o clichê "Je t'aime moi non plus". Sabia que foi casado com a Jane Birkin, que era polêmico, que disse um dia que queria "baiser" (foder) a Whitney Houston em rede nacional, que teve um caso com a Brigitte Bardot (que então não estava na sua versão xenofóbica) e que aliás namorava mulheres lindas, que o seu "Je t'aime moi non plus" tinha virado filme com Jane Birkin fazendo o papel de garota andrógina que teve um caso com um homossexual (o título do filme foi traduzido como "Paixões Selvagens" e consegui assistir uma cópia VHS). Não era uma baita bagagem, mas uma maleta bem prática. Só que não foi suficiente para a profusão de informações, imagens e sons que me assaltaram na exposição. Demorei tanto tempo lá que fui expulsa pelo segurança sem nem mesmo ter terminado meu tour. Corri para casa ler a biografia fast food "Um punhado de Gitanes" de Sylvie Simmons. Eis algumas informações extras que posso partilhar rapidamente e aguçar as curiosidades alheias.


Serge Gainsbourg não foi sempre Serge nem Gainsbourg por toda a vida, como me informou a monitora da exposição. Quase não nasceu como Lucien Ginsbourg em 1927, já que sua mãe pensou em abortá-lo mas desistiu por causa da imundície da clínica de abortos. Era filho de judeus russos instalados em Paris fugidos da Revolução Russa. Como o chamavam de "Lulu", para seu desgosto, resolveu anos mais tarde mudar para Serge e afrancesou o sobrenome para "Gainsbourg". Sacanamente deu o seu nome de batismo "Lucien" para seu filho caçula e vingou-se do destino também chamando-o de "Lulu". Os franceses guardam dele a imagem do bebum com barba por fazer, consumidor compulsivo de Gitanes, e lotam seu túmulo no cemitério de Montmartre e sua casa na rue Verneuil com caixas de cigarro e garrafas de Pastis . A esta faceta "rebordística" ele chamou de "Gainsbarre" e fazia questão de expô-la na TV ao vivo.


Não é a toa que me atordoei na exposição: ao longo da vida foi ator, diretor, roteirista, mas sobretudo compositor. Fez letras para si e para Françoise Hardy, Juliette Greco, Vanessa Paradis, France Gall, Jane Birkin, Brigitte Bardot, Isabelle Adjani e até mesmo para Catherine Deneuve. Pensava a música como um todo e navegou por vários ritmos, sendo que foi um dos precursores do reggae (no disco Aux Armes Etcaetera) e do rap (You're under arrest). Até escreveu um romance escatológico, Evguénie Sokolov, o qual estou doida para achar e ler.


Era sensacional no jogo de palavras e no duplo sentido, o que se percebe logo de cara nos títulos de algumas músicas: "Con c'est con ces conséquences", "Baby Alone in Babylone", "La Décadanse"... Exemplo disso, brincando com seu nome e o seu alterego ele dizia "Gainsbourg se barre, Gainsbarre se bourre" ("se barre" significa se fechar, se isolar, e "se bourre" beber até cair), mostrando as personalidades conflitantes que viviam dentro dele. Outro exemplo hilário de como manipulava os sentidos nas letras está ilustrado na história que se passou com a cantora France Gall. Ela era uma "Sandy" francesa, ingênua de tudo, e ele a fez cantar "Les Sucettes" (Pirulitos), sobre uma menina que chupava pirulitos até que o anis escorresse pela garganta. Conotação sexual pura que a pobrezinha não se deu conta até já ser um sucesso e então algum sacana lhe explicar o duplo sentido. Isso a fez se esconder durante semanas de vergonha.


Diziam que antes de tudo era um tímido que aprendeu que o álcool o destravava para a vida e o cigarro e a fumaça enjoativa dos Gitanes lhe serviam de muleta. Morreu em 1991 com o seu terceiro enfarto, consequente de sua vida abusiva, e antes que lhe amputassem a perna por causa de uma arteriosclerosa causada pelo fumo excessivo.

Um tira-gosto "Le Poinçoinneur de Lilas"

2 comentários:

cláudia corá disse...

havia ouvido qualquer coisa sobre a exposição, mas o seu texto me fez ficar interessada...
beijo,
claudia

Bruna disse...

dorei! ah, e tem um selinho dorado pra ti lá no Quarto Escuro!